Um marciano manda um postal para casa
Caxtons são pássaros messiânicos de muitas asas
e alguns são muito apreciados pela coloração -
fazem os olhos derreter-se
ou o corpo gemer de dor.
Nunca vi nenhum voar, mas
vezes pousam na mão.
Névoa é quando o céu está cansado de voar
e descansa no chão a máquina macia:
então fica o mundo baço e livresco,
como gravuras sob papel de seda.
A chuva é quando a terra é televisão.
Tem a propriedade de tornar as cores mais escuras.
O Modelo T é um quarto com fechadura dentro -
dá-se a volta à chave e o mundo fica livre
para o movimento, tão veloz que há um filme
para ver tudo o que passou despercebido.
Mas o tempo está atado ao pulso
ou guardado numa caixa, fazendo um tiquetaque de impaciência.
Em lares, dorme um utensílio assombrado
que ressona quando alguém lhe pega.
Se o fantasma chora, levam-no
aos lábios e sossegam-no com sons
até dormir de novo. E no entanto acordam-no
de propósito, fazendo-lhe cócegas com um dedo.
Só às crianças se permite que sofram
em público. Os adultos vão para um quarto de castigo
com água, mas sem nada de comer.
Fecham a porta à chave e sofrem sozinhos
os barulhos. Ninguém está dispensado,
e a dor de cada um tem um cheiro diferente.
À noite, quando as cores todas morrem,
escondem-se aos pares
e lêem acerca de si próprios
a cores, de pálpebras cerradas.
Craig Raine,
em "LEITURAS poemas do inglês",
tradução de João Ferreira Duarte,
Relógio de Água, 1993.
e alguns são muito apreciados pela coloração -
fazem os olhos derreter-se
ou o corpo gemer de dor.
Nunca vi nenhum voar, mas
vezes pousam na mão.
Névoa é quando o céu está cansado de voar
e descansa no chão a máquina macia:
então fica o mundo baço e livresco,
como gravuras sob papel de seda.
A chuva é quando a terra é televisão.
Tem a propriedade de tornar as cores mais escuras.
O Modelo T é um quarto com fechadura dentro -
dá-se a volta à chave e o mundo fica livre
para o movimento, tão veloz que há um filme
para ver tudo o que passou despercebido.
Mas o tempo está atado ao pulso
ou guardado numa caixa, fazendo um tiquetaque de impaciência.
Em lares, dorme um utensílio assombrado
que ressona quando alguém lhe pega.
Se o fantasma chora, levam-no
aos lábios e sossegam-no com sons
até dormir de novo. E no entanto acordam-no
de propósito, fazendo-lhe cócegas com um dedo.
Só às crianças se permite que sofram
em público. Os adultos vão para um quarto de castigo
com água, mas sem nada de comer.
Fecham a porta à chave e sofrem sozinhos
os barulhos. Ninguém está dispensado,
e a dor de cada um tem um cheiro diferente.
À noite, quando as cores todas morrem,
escondem-se aos pares
e lêem acerca de si próprios
a cores, de pálpebras cerradas.
Craig Raine,
em "LEITURAS poemas do inglês",
tradução de João Ferreira Duarte,
Relógio de Água, 1993.
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