sexta-feira, março 25, 2005

O Esterco do Mundo

Tenho amigos que rezam a Simone Weil
Há muitos anos reparo em Flannery O'Connor

Rezar dever ser como essas coisas
que dizemos a alguém que dorme
temos e não temos esperança alguma
só a beleza pode descer para salvar-nos
quando as barreiras levantadas
permitirem
às imagens, aos ruídos, aos espíritos sedimentos
integrar o magnífico
cortejo sobre os escombros

Os orantes são mendigos da última hora
remexem profundamente através do vazio
até que neles
o vazio deflagre

São Paulo explica-o na Primeira Carta aos Coríntios,
"até agora somos o esterco do mundo",
citação que Flannery trazia à cabeceira

José Tolentino Mendonça, A Estrada Branca, Assírio & Alvim.