A arte é um meio para ver melhor
Quando perguntavam a Alberto Giacometti o que era, para ele, a arte, podia responder muitas coisas, mas encontrava sempre um modo de repetir: "A arte é um meio para ver melhor". Li, há tempos, uma velha entrevista sua onde contava: "Primeiro, ia ao Louvre para ver os quadros e as esculturas do passado e considerava-as de uma beleza superior àquela da realidade. Hoje, quando vou ao Louvre, todas estas representações do mundo exterior me parecem parciais e precárias. Pergunto-me como conseguia ver aquelas coisas. E aquilo que me surpreende agora, o que me fulmina, não são nem os quadros, nem as esculturas, mas os visitantes. Olho unicamente as pessoas que olham." (...)
Penso muitas vezes no fugidio sentido das palavras que ele repetia sempre: "A arte é um meio para ver melhor". Talvez todos os livros que lemos e se tornaram inseparáveis, todo o tempo fascinado que dedicámos a uma imagem, os motivos inexplicáveis que nos fazem escolher determinada música, quando à nossa alma lhe dá para assobiar no escuro, talvez tudo isso seja apenas a preparação que nos é requerida para olhar um rosto. Transportamos frases, fragmentos, vestígios: não sabemos dizer bem porquê, até que de repente, isso que eram palavras ou imagens ou uma coisa tão ténue que nem se pode descrever, assoma como forma, mais sensível, mais intensa, de escutar a glória que habita cada rosto. (...)
José Tolentino Mendonça, in Público, 5 Maio 2001.
Penso muitas vezes no fugidio sentido das palavras que ele repetia sempre: "A arte é um meio para ver melhor". Talvez todos os livros que lemos e se tornaram inseparáveis, todo o tempo fascinado que dedicámos a uma imagem, os motivos inexplicáveis que nos fazem escolher determinada música, quando à nossa alma lhe dá para assobiar no escuro, talvez tudo isso seja apenas a preparação que nos é requerida para olhar um rosto. Transportamos frases, fragmentos, vestígios: não sabemos dizer bem porquê, até que de repente, isso que eram palavras ou imagens ou uma coisa tão ténue que nem se pode descrever, assoma como forma, mais sensível, mais intensa, de escutar a glória que habita cada rosto. (...)
José Tolentino Mendonça, in Público, 5 Maio 2001.
1 Comments:
"A arte tem valia porque nos tira daqui", diz Fernando Pessoa no Livro do Desassossego.
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