quarta-feira, junho 22, 2005

Sem fuga

Estou convencida que as 8:45/47 é a melhor parte da viagem diária. Pois, estou a par das novas chegadas ao porto. Há dias um "cluster" ancorado no Porto de Leixões, o veleiro brasileiro "Cisne Branco", um deslumbre para os apaixonados de embarcações náuticas. Enquanto passo, enquanto olho os contentores de várias cores, penso sempre que Giuliana nunca voltou do deserto vermelho.

terça-feira, junho 21, 2005

Fuga


Com o eléctrico no meio do percurso à minha espera, mas errante que é errante, caminha. E assim foi, o meu trajecto favorito, da Ribeira até à Foz, pela marginal.



Ainda antes de chegar à Ribeira, fui ver o espectáculo do "famoso" jaracandá do Largo do Viriato. Florindo.


Entre tantas linhas, outra perspectiva do rio Douro.


Outras linhas, esta escrita num dos pilares da Ponte da Arrábida: "Não estamos a viver bem".


No entanto, no próximo dia do São João vai dar para comer à "americana" e ser herói por um dia.


Por fim, o anjo na curva.

last tapes suspenso por uma vírgula

-cerejas;
-nuvens;
-Robert Walser.

Serão palavras a aparecer até ao fim da história?
Vou apostar que sim.

souvenirs

Esclareço já que souvenirs provenientes de France são só bem-vindos os seguintes (os não incluídos desta lista podem receber um estudo de pré-aceitação):

-pequenos pacotes de açúcar com versos de Rimbaud;
-marcadores de livros com frases eróticas de Marguerite Duras;
-uma miniatura de Paul Valéry, de jardineira e com um livro debaixo do ombro, para colocar em cima do aquário que não tenho;
-sacos de plástico, de supermercado, com frases soltas de Albert Camus;
-uma bola de ténis com o autógrafo de Jean-Luc Godard;
-uma lapiseira com luzinha e um caderno com a folha branca de Mallarmé;
-uma caneta com a inscrição "Je suis d'un autre pays " (la solitude de Léo Ferré).

uma palavra

domingo, junho 19, 2005

Estou além



Hoje estava muito bem com a alegria de viver dos espanhóis. Hoje como ontem como amanhã. Hoje estaria muito bem em Vigo, como não estou e "Vigo está tan lonxe", fico com a harpa de Emilio Cao. Hoje se estivesse em Vigo, teria em mente o que canta António Variações: "Tenho pressa de sair /Quero sentir ao chegar /Vontade de partir /P'ra outro lugar". Como não estou, fico com as cartas mariñas (dedicado ao poeta Manoel Antonio).

Saraband


Amanhã com o Público, em estreia nacional em dvd, Saraband de Ingmar Bergman, por 9,90 euros.

sábado, junho 18, 2005

The Hollow Men



Chris Marker apresentou o seu último projecto "Owls at Noon: The Hollow Men" até ao início deste mês no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. (Só mais uma razão para estar em Nova Iorque em Junho). A instalação do cineasta inovador, de 19 minutos, foi inspirada no poema de T.S.Eliot, "The Hollow Men".

This is the way the world ends
This is the way the world ends
This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper.

Os errantes- IV


(c)Robert Mapplethorpe. Bruce Chatwin, 1979.

"Todas as nossas actividades estão ligadas à ideia das viagens. E apraz-me pensar que os nossos cérebros têm um sistema de informação que nos dá ordens para o caminho, e é esse o motivo principal da nossa errância. Numa fase inicial, o homem descobriu que podia depender toda a informação de uma vez só, manipulando a química do cérebro. Podia partir para uma viagem ilusória ou para uma imaginária ascensão.Por isso, ingenuamente, os colonos identificavam Deus com a vinha, o haxixe ou um cogumelo alucinogéneo, mas os verdadeiros viajantes raramente se deixavam cair nessa ilusão. As drogas são o veículo daqueles que esqueceram como se caminha."


Bruce Chatwin
, Anatomia da Errância, "O mundo é nómada nómada", Quetzal Editores, 1997, pp 127.

Os Cantos


(c)Richard Avedon. Ezra Pound, 1958.

E Amélia, sabe dizer-me, porque é que não há uma tradução portuguesa de "The Cantos" de Ezra Pound. Falo nesta obra de Ezra Pound, como poderia falar de outras obras, de outros autores.

The Ghost and Mrs Muir


De "The Ghost and Mrs Muir", Joseph L. Mankiewickz.

"Porque é que as pessoas se apaixonam por fantasmas? Porque é que os fantasmas se apaixonam por pessoas? Perguntá-lo é perguntar "como pode usar amor de entendimento". Sempre que vejo,no meu cartaz, Rex Harrison mais azul do que negro sumir-se no fundo do colo de Gene Tierney, pergunto-me qual dos dois foi fantasma e como o Andrea Francorum de Stendhal "inter quos possit esse amor". Lembram-se do que ele respondia a quem se embaraçava com a obscuridade de discurso destes? É melhor não se lembrarem."

João Bénard da Costa, "O fantasma apaixonado", Público, 12 de Junho de 2005.

O Sérgio tinha razão quando dizia que era uma crónica soberba. É mesmo. Também não dava para duvidar, é uma crónica de João Bénard da Costa, que escreve com o seu estilo tão próprio e mais apaixonado ainda quando é cinema. Não me lembrava da tanta importância deste filme para o escritor. Agora entendo. Pena não deixar mais longo este fragmento sobre "a história de amor entre o fantasma mais malcriado do mundo e a mulher mais mar do mundo."

quinta-feira, junho 16, 2005


(c)Helena Almeida, Dentro de Mim, 2000.

terça-feira, junho 14, 2005

The Lake Isle of Innisfree

I WILL arise and go now, and go to Innisfree,
And a small cabin build there, of clay and wattles made;
Nine bean rows will I have there, a hive for the honey bee,
And live alone in the bee-loud glade.

And I shall have some peace there, for peace comes dropping slow,
Dropping from the veils of the morning to where the cricket sings;
There midnight's all a glimmer, and noon a purple glow,
And evening full of the linnet's wings.

I will arise and go now, for always night and day
I hear lake water lapping with low sounds by the shore;
While I stand on the roadway, or on the pavements gray,
I hear it in the deep heart's core.

William Butler Yeats.

planos

Não me lembro muito bem se foi no primeiro ciclo de Cinema Fora do Sítio. Lembro-me sim de ver "La dolce vita", em plena rotunda da Boavista. E mais: lembro de ver uma folha a ziguezaguear pela tela e descer pelo o rosto de Marcello Mastroianni. Que plano picado mais fora do sítio ou que doce vento.

Calculo que, no próximo sábado, vai estar um frio do caraças no Castelo de S. João da Foz, mas não quero perder "o estrangeiro louco".

segunda-feira, junho 13, 2005


Marc Chagall, "Paris através da janela".

(ai se tu esqueceste dos meus papéis, com as promoções do supermercado, eheh)

o fantasma apaixonado ?

Vi há pouco, no site do Público, que a última crónica, agora ao domingo, de João Bénard de Costa chama-se "o fantasma apaixonado". Eu não li, e fiquei muito curiosa. Será que ele fala de um certo filme de que gosto muito? Alguém leu?

-13 de junho-

Fernando Pessoa, W.B.Yeats.
Al Berto, Eugénio de Andrade.

memórias

os barcos são a única imagem que resta para fugir
mas só as palavras nos embriagam
são labareda que devora os barcos e a memória
onde nos movíamos
esquecemos o que nos ensinaram
e se por acaso abríssemos os olhos
um para o outro
encontraríamos outra imobilidade outro abismo
outro corpo hirto
latejando na imperceptível ferida nocturna

pernoito na precária vida do fogo
este rumor de mãos ao de leve pelo corpo
adormecido na superfície do espelho
assalta-me o desejo incerto de te acordar
e o medo de querer de novo tudo reinventar

Al Berto, O Medo, «Uma Existência de Papel».

lucky dog



Thursday February 17, 1916
June and I went to the Jefferson to see the "Circular Staircase." It was some mystery. Glenn walked home with us after the show. What do you know about that? Huh?


Luca enviou-me o link de um site muito interessante sobre o diário de uma mulher norte-americana,Louise B. Hancock, desde do início do ano 1916. Grazie!

la mer, la mer, toujours recommencée!

"Trabalho com a frágil e amarga
matéria do ar
e sei uma canção para enganar a morte
assim errando vou a caminho do mar."

Eugénio de Andrade ainda continua a fazer a viagem: a caminho do mar.

memórias



II

O muro é branco
e bruscamente
sobre o branco do muro cai a noite.

Há uma cavalo próximo do silêncio,
uma pedra fria sobre a boca,
pedra cega de sono.

Amar-te-ia se viesses agora
ou inclinasses
o teu rosto sobre o meu tão puro
e tão perdido,
ó vida.


Eugénio de Andrade, de Matéria Solar.

quinta-feira, junho 09, 2005

agnès varda com sophia loren em portugal



"Para voltarmos à fotografia e chegarmos a Portugal, a fotografia "Sofia Loren em Portugal" foi feita na altura de uma reportagem...

Pensando nessa reportagem a primeira coisa de que me lembro são as escritas nos passeios em frente à loja de chá- chat quer dizer em português chá, não é? Para mim, que gosto muito de gatos, os gatos estavam nos passeios e fartei-me de os fotografar. Fotografei também muitas mulheres que levavam coisas sobre a cabeça, pão ou bebés. Estive numas aldeias muito bonitas, Nazaré, na costa, e na região de Évora. Atravessei planaltos que parecem a lua. Em Estremoz havia um homem que fazia estatuetas e trabalhava nas finanças, ia receber os impostos de bicicleta e voltava para casa para fazer pequenas esculturas com um canivete. Fiz muitas fotografias sobre a arte popular, mas gostei sobretudo do trabalho desse homem... Luciano Martins de Oliveira, chamava-se."

Agnès Varda, os filmes e as fotografias, "Daguerrencontro, Outubro 1992", Cinemateca Portuguesa, Junho 1993.

cá vamos nós para Espanha, olé!



Foi uma má notícia para mim.
Tenho boas recordações das minhas idas de comboio até Vigo. E não há muito fiz esse trajecto de comboio, Porto/Vigo e Vigo/Porto, por isso não me agrada mesmo nada ver esta linha fechada. Amanhã ainda dá para fugir até lá. A partir de Julho acabou. Droga!!!

zazie dans le blog



Hoje, às 21 horas, "Cyrano de Bergerac", no canal hollywood.

quarta-feira, junho 08, 2005

melómano quiz

O Saleiro lançou-me este desafio musical, aqui cantam as respostas:

1) Tamanho total dos arquivos no meu computador?
Tenho poucas músicas no computador. Entre 100 e 150 músicas.

2) Último disco que comprei:
O último álbum de P.J.Harvey, "Uh Huh Her".

3) Canção que estou a escutar agora:
Secrets - Edison Woods (o meu último vício melómano).

4) Cinco canções que ouço frequentemente ou que têm algum significado para mim:
Txxi, Cinco músicas?? É difícil deixar tantas outras de fora, ficam então cinco que têm muito significado para mim.

Wild is the wind (de Dimitri Tiomkin, Ned Washington )- interpretada por David Bowie;
Famous blue raincoat - Leonard Cohen;
Henry lee ( de Nick Cave)- interpretada por Nick Cave e P.J. Harvey ;
A night in - Tindersticks;
Fotografia ( de Tom jobim) - interpretada por Elis Regina .

5) Lanço o testemunho a outros cinco bloggers:
Ale, C. , Ana, Dueto e Fran.

Edison Woods, Seven principles of leave no trace

nota

Dizem os admiradores de Alejandra Pizarnik que a edição limitada da Universidade VeraCruzana, Zona Prohibida, poemas e desenhos de Alejandra, impressa com tinta verde, é lindíssima. Nem a imagem da capa está disponível no site Amazon.

so hot

Se eu pudesse, emigrava para um frigorífico. E ficava muito bem dentro da arrumação das couves, dos nabos, das cenouras, e parentes da família.

Há dias vi uma reportagem, já não sei muito bem em que canal, em que alguém teve a ideia de aproveitar os frigoríficos em plena reforma para colocar em tal espaço uma série de livros. De uma certa maneira é uma frigobiblo. Gostei da ideia.

apontamento

Assino newsletters, boletins informativos, e afins, em vários sites, tudo muito variado, claro, de filosofia a economia digital, passando por música de várias paletas, tropeçando em canais televisivos, caindo no "portal do governo", e terminando em muitas editoras. Entre as novidades de "City Lights" e a "Editora Livros do Brasil", fico a saber que a Gallimard tem esta novidade, entre tantas outras.
Se eu vivesse em Paris, oh mon dieu,...

um bouquet aquático

aqui no blogue do ilustrador (e que estilo, e que cores!!)Brandon Reese.

terça-feira, junho 07, 2005

timeshow

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segunda-feira, junho 06, 2005

os errantes-III


(c) Richard Long, A line in Japan, Mont Fuji, 1979.

domingo, junho 05, 2005

já não temos começos

As primeiras linhas de Balada do Café Triste:

"É uma terra sombria. Não tem mais do que uma fábrica de algodão, casas de duas assoalhadas onde vivem os operários, alguns pessegueiros, a igreja com duas janelas de vitral e uma rua principal, feia, com apenas cem jardas de comprido.
Aos sábados, os rendeiros das quintas em redor vão até lá para um dia de conversa e compras. Nos outros dias, está vazia e triste, como todos os lugares perdidos e distantes do mundo."

Carson McCullers.

Também escolho os começos dos romances de Clarice Lispector, em especial de "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", "Hora da Estrela" , "Paixão Segundo G.H.". Entre tantos outros.

Os começos estão com A Natureza do Mal.

sábado, junho 04, 2005

A Wanderer's Song



A WIND'S in the heart of me, a fire's in my heels,
I am tired of brick and stone and rumbling wagon-wheels;
I hunger for the sea's edge, the limit of the land,
Where the wild old Atlantic is shouting on the sand.

Oh I'll be going, leaving the noises of the street,
To where a lifting foresail-foot is yanking at the sheet;
To a windy, tossing anchorage where yawls and ketches ride,
Oh I'l be going, going, until I meet the tide.

And first I'll hear the sea-wind, the mewing of the gulls,
The clucking, sucking of the sea about the rusty hulls,
The songs at the capstan at the hooker warping out,
And then the heart of me'll know I'm there or thereabout.

Oh I am sick of brick and stone, the heart of me is sick,
For windy green, unquiet sea, the realm of Moby Dick;
And I'll be going, going, from the roaring of the wheels,
For a wind's in the heart of me, a fire's in my heels.

John Masefield

E agora?

>>>>>Agora<<<<<< como gostava de ver uma longa exposição, com mais de 99 dias, de Sophie Calle. E que a artista estivesse escondida, como voyeur que é, no Museu de Serralves, nos dias começados com a letra "S".

maybe

passeios pelo Porto, de outros tempos

Ontem, na Biblioteca Almeida Garrett, na apresentação do livro ""Passeios pelo Porto de Outros Tempos" (Casa das Letras), de Germano Silva - muito apaixonado pela cidade do Porto, conhecedor dos recônditos mais recônditos da cidade e guardador da memória do Porto, de outros tempos - após a intervenção (brilhante!) do poeta Manuel António Pina, o jornalista e historiador transferiu todas as suas palavras não para si mesmo, nem para o livro, mas para a memória de um grande historiador do Porto, Artur Magalhães Basto. Foi bonito e inteligente da sua parte.

o arco-íris que atravessa as pessoas de romance

os olhos peixes de Jean Cocteau