domingo, julho 31, 2005

Ascenseur pour l'échafaud



"Elevator to the Gallows”, (<<<< é obrigatório ver o trailer)
de Louis Malle, com Jeanne Moreau, Maurice Ronet, Georges Poujouly, entre outros, com música de Miles Davis,num cinema perto de casa.

passagem


Pergunta: A literatura épica sempre lhe interessou muito, não?
Jorge Luis Borges: Sim, sempre. Por exemplo, há muitas pessoas que vão ao cinema e choram. Isso sempre aconteceu: aconteceu comigo também. Porém, nunca chorei por questões sentimentais ou episódios patéticos. Mas quando vi os primeiros filmes de gângster de Sternberg, lembro-me de que havia qualquer coisa de épico neles-por exemplo, os gângsteres de Chicago morrendo bravamente - bem eu sentia meus olhos cheios de lágrimas. Tenho sentido muito a poesia épica do que a lírica ou a elegia. Sempre senti isso.

Em: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review, Editora Companhia das Letras, 1988, pág. 200.

Outra Errância



Do Porto para Nova Iorque, de Sidney para Roma, e assim errando e perdendo pelos desertos, noutra dimensão.

The Last of the Indies, Jim Jarmusch.



More than anything, Jarmusch is a sort of focused amateur enthusiast. ''I consider myself a dilettante in a positive way, and I always have,'' he said. ''That affects my sense of filmmaking.'' His passions, which reflect his resolute disinterest in the conventional, include the study of mushrooms (''I almost died after eating wild mushrooms''); bird-watching (''In 12 years, I've identified about 80 birds in my yard in my home in the Catskills''); the authorship of Shakespeare's plays (''I think it was Christopher Marlowe''); the history of cinema (''Some mornings I'll wake up and say, 'There's an Ophuls film I haven't seen, and I need to see it today'''); and, most of all, music.
He wrote ''Broken Flowers'' while listening to recordings from the early 70's by Mulatu Astatke, an Ethiopian jazz-funk artist (whose music ended up in the film), and is currently enthralled by a duo called Coco Rosie, who, as he described them, ''sound like two little Billie Holidays an octave higher if you were on acid in Tokyo in 1926.'' ''I think I was supposed to be a musician,'' he said. To him, movies should aspire to the immediate sway of music. ''I want to capture the temperature, the texture, the atmosphere you can inhale just by listening to a three-and-a-half-minute song.''

Jim Jarmusch entrevistado por Lynn Hirschberg, em "The New York Times", 31 de Julho de 2005.

Não faço a mínima qual é a data de estreia por cá, de "Broken Flowers". Espero que seja para breve.

sábado, julho 30, 2005

A não perder


Hoje, no canal 2, às 23 horas, "O Homem sem Passado", de Aki Kaurismäki.

Do amor, de Stendhal



o que achas destas quatro espécies de amor(l'amour-passion, l'amour-goût, l'amour-physique et l'amour de vanité.)?

Do plantio de Agosto

As lições de tamanho, com lanternas, de errância, de dose e volume, com Pessoas de Romance.

Tears of a modern mystic


Bill Viola, The Tristan Project.

"I cry a lot," he says. "Usually once a day. I think it's one of the most profound forms of human expression."

"Creativity comes out of two things: boredom and crisis," he says.

"Art is not a straight line. It never has been, and if you see that in art you should be suspicious."

Bill Viola, entrevistado por Joyce Morgan, para The Age.

Memória

(Os sentimentos mais profundos manifestam-se sempre em silêncio.Pode também não ser em silêncio, de outro modo.)
Parte da vida da minha avó foi de idas e vindas, de campos para campos, com baldes para aqui e acolá, e tanta solidão pelo meio. No inverno, sentada, com as mãos castigadas pelo trabalho, pousadas, ao pé do fogo dos panelões de ferro. No verão, sentada ao pé da porta, no banco de pedra, de sol. Tantos provérbios, tantas lengalengas,tantas orações,tantas lendas,tantas histórias, só sabias dizer assim, avó. Tantas notícias sobre colheitas, "tem havido muito mel", foi a tua última notícia. Parte da tua memória está comigo. Vou ter tantas saudades do teu olhar, firme e longo, avó.

terça-feira, julho 26, 2005

As palavras de Tonino Guerra


(...) Será que existe uma fronteira nítida entre o que é palavra de cinema e o que é palavra de televisão?
A televisão é um meio prático, capaz de nos dizer que há uma guerra, que alguém morreu. E pode fazê-lo bem. Mas se pensarmos, por exemplo, em Tarkovski, aí temos alguém que sabe trabalhar a espiritualidade da palavra. Angelopoulos também é um amante da palavra. Antonioni não, não gosta da palavra.

Antonioni prefere a imagem?

Sem dúvida, porque ele diz que a imagem já contém a palavra. Daí que o seu argumentista (e eu fiz 12 filmes com ele) dependa do facto de nele não haver uma boa relação entre palavra e imagem.

Quer isso dizer que, com Antonioni, se sente submetido ao poder da imagem?

Por vezes. Em alguns momentos, senti que os diálogos sofriam com esse domínio. Por exemplo, quando pensámos fazer O Deserto Vermelho [1964], falámos com uma grande poetisa italiana chamada Amelia Rosselli [1930-1996]. Ela estava doente e nós perguntámos-lhe como estava. E ela, para descrever o que sentia no cérebro, disse-nos assim "Há momentos em que até me doem os cabelos." Entretanto, o filme entrou em rodagem. Já no final, na região de Ravenna, Antonioni decidiu filmar uma cena em que apenas pediu a Monica Vitti que corresse para a casa do homem que ama. Ela chegava, ansiosa, quase que parecia que ia matar alguém. O homem pergunta-lhe que se passa com ela. E o que é que Antonioni pediu para ela responder? "Doem-me os cabelos." (...)
In DN,25 de Julho de 2005.

segunda-feira, julho 25, 2005

The Sheltering Sky


The Sheltering Sky, Bernardo Bertolucci.
(Enquanto Kit conta o seu sonho no café, há um plano exterior entretanto que aparece muito rápido, este, onde se vê o cartaz do filme "Sans Lendemain", de Max Ophüls. Aujourd Hui, sans lendemain.)

Tunner: We're probably the first tourists they've had since the war.
Kit: Tunner we're not tourists. We're travellers.
Tunner: Oh. Whats the difference?
Port: A tourist is someone, who thinks about going home the moment they arrive, Tunner.
Kit: Whereas a traveller might not come back at all.
Tunner: You mean I'm a tourist.
Kit: Yes Tunner. And I'm half-and-half.

passagem

"Tourists don't know where they've been, travellers don't know where they're going."
Paul Theroux.

(protegida por mim). ram letoh. julho 2005.

domingo, julho 24, 2005

Hong Kong Proust


in the mood for love, wong kar-wai.

"He's become a kind of Hong Kong Proust, combining the kinetic movement and hallucinatory night life of his home city with a ruminative style and a growing concern with our inability to capture lost time."


Quando é que chegará o filme "Eros", de Wong Kar Wai, Steven Soderbergh, Michelangelo Antonioni , às salas de cinema?

Movimentação Errática

"(...)De que é que Rimbaud estava à espera para mostrar o seu modo implacável de fugir de casa? Apareceu, sim senhores, mas exactamente quando já desaparecia. É assim que se está a ver a história da "aventura espiritual da poesia Ocidente": Rimbaud deu dois exemplos, e o segundo anulava o primeiro. Quando as pessoas chegaram ao primeiro, acharam-no bom, e ficaram nele. Então, esqueceram que havia o segundo. Este último cancelava as iluminações ou as épocas no inferno (tanto faz) como um "erro". O silêncio é que deveria ter sido o ponto de partida para a experiência espiritual da modernidade. O erro monstruoso do surrealismo foi consagrar Rimbaud como autor de uns fulgurantes sinais referidos a Prometeu. Ele tinha o rosto em brasa, foi o que os surrealistas viram. Não viram Harrar, onde ele não escrevia senão algumas cartas ausentes (Je règne par l' étonnant pouvoir de l'absence"-Victor Segalen).
Os dadaístas, por exemplo, estavam a utilizar o impossível para destruir tudo, e não acreditavam na "aventura interposta". Mas lá aparece Monsieur Breton a dizer como era. Foi o desastre que se não quer saber. Que se havia de fazer, depois disso? Foi-se fazendo, claro. Agora é o que se vê. Há duas coisas que dois impulsos procuram apresentar e representar:

a)Levar a linguagem à carnificina, liquidar-lhe as referências à realidade, acabar com ela- e repor o silêncio.

b)Fingir escolarmente que não aconteceu nada- e escrever poemas cheios de honestidades várias e pequena digitações gramaticais, com piscadelas de olho ao "real quotidiano". Aqui, o autor diz: desculpe, sr. dr, mas: merda!

Eis que em 1968 o autor, que é um simples habitante forçoso de confusão destas coisas, acaba o seu poema, e pergunta: Vou para férias?
Não é verdade que isto é pura esquizofrenia? Não estarei eu bastante maduro e ruidosamente pronto para o silêncio? - E então não escreveu mais no seu poema. A situação não lhe parece da "partida", mas de "chegada".
Em 1930, Jorge Luís Borges deliberava: "a literatura é uma arte que sabe profetizar aquele tempo em que terá emudecido, encarniçar-se com a própria virtude, enamorar-se da sua dissolução e encontrar o seu fim". Mas isto é ainda atravessado por uma vertigem "literária". Em 1971, meus amigos, já estamos para além do fim.

Herberto Helder, Luanda, 14. Set.71, em "Caliban" 2.

cá estão os homens eficientes


(protegida por mim). e-men. julho 2005.

sábado, julho 23, 2005

million dollar baby

Gentilmente o poeta António Cabrita enviou-me um poema (inédito), que foi escrito depois de ter visto o filme "Million Dollar Baby", de Clint Eastwood. Tal como eu, ficou emocionado com o filme de Clint, com um dos mais bonitos pactos de amor que já vi em cinema.

MILLION DOLLAR BABY

(ao Clint Eastwood, pela sua dimensão ética
e ao Manuel Cintra Ferreira, pela admiração de que é capaz
pelas coisas certas)


A lâmina roça a face de Deus? A podadeira
num ritmo sincopado, desprendido, decepa
o ramo do jacarandá. Quando um anel
é rasgado e a resina pinga no chão solta-se
na banda sonora o canto das baleias –

aturdido e fundo. É o prémio de tanta deferência,
de alienar-se no vento, gostaria eu que pensasse
o vegetal lenhoso, mas este gorgoleja em seco
a dor. Quantos terços dá uma árvore,
perguntei em miúdo ao meu pai, ateu

ferrenho, que me deu um carolo e fitou
preocupado. E continuou em silêncio a remoer
algo que travejava o espectro do desemprego.
É a auréola dos pobres: a vida como medo
a prestações. Os lenhadores foram recrutados

a magote, alguns sem-abrigo que hoje
desmoerão bucha e moedas para o chapa.
Chegaram numa brigada, em vários camiões,
a missão é transformar o cento de jacarandás
da praça em ledos periscópios para cegos.

Serram de rosto cerrado, impelidos
pela incerteza de terem por precioso osso
e azedume. Broncos como dedos
que vão à chama supondo a dor
clandestina, broncos como o cuspo

que recompensa um mortiço cigarrinho
a mielas, puxam a serra no limite
da asfixia, orla do tempo ingrávido.
Dói ver como o alinhamento das copas
se desfaz aos poucos, tocadas

por furtiva lepra. O corpo chupado,
inextenso, é para eles a superstição
que arrastam. Quantos deles já atirou
a matar? Apesar do inextricável
das sombras, o nado-morto arranhará

o nado-anjo? É a vesânia que reclamam?
Não há ermo como o que lacera a pele
à alma, por incapacidade pra mover
o corpo, no conciso leito da solidão.
Então Clint, deparei com dois homens

dependurados numa serra para dois,
e que, num esgar meio patético,
cortavam um tronco pelo meio.
Quem os incumbiu da tarefa?
Dei conta que era como no ringue,

um combate marcado por avanços,
recuos, fintas, que superavam
as suas forças a tentar que o outro desse
parte fraca, numa cadência de golpes
em que só a árvore arbitra e sangra.

Há quinze minutos tinham fome, agora
uma crista faz da fraqueza coração, sim
meu caro Clint, não basta ser duro,
só o vulnerável conhece a fé. Será
essa a lição do boxe: mostrar que a morte

nunca busca motivo, pois tudo flui
na presença com que precede as feridas?
O ritmo alternava, em dois ou três puxões
firmes um deles julgou ter encostado o outro
às cordas, sente nele uma ferida à escuta,

mas o outro reage, entesa como um caroço,
e enterra fundo, de sacão, o dente da serra,
e tudo recomeça, em plena invernia
suplantam a dor de burro e o ar que aperta
as aduelas. Ignoro se há uma adstringência

no ringue que eleja a dor como mútuo
sentimento, mas na veste ensanguentada
desta árvore enxergo um alívio
que os desvia da ordenha do fado.
Batem-se – como nuvens assanhadas

que farejam relâmpago: pode a vida
consentir que numa parelha de cavalos
reluza o mesmo coágulo fermentado?
Começa a chover, a maioria debanda,
eles continuam impassíveis - fosse

o dilúvio- , este é um combate a dois,
cada um é a humanidade do outro,
o seu espectador, a errabunda chance.
Não se conheciam antes de empurrarem
aquela lâmina de um para o outro,

com uma gana de que até a árvore é
árbitro comovido. Ouve-se Joss Stone
a cantar Right to be Wrong. Assalto
a assalto, a árvore aproxima-se do fio.
Que dívida saldam senão a do mundo

para com eles, abstraindo o conhaque,
os canais por cabo, os filhos na escola
de arte, ou na briga por entrada
em medicina? Socam e reconciliam-se,
que a vida, meu caro Clint, não menoriza,

não subestima. E o golpe mais frágil pode
filar a presa, virar o jogo, valer a million dollar,
baby. A chuva fustiga como um maciço
de arbustos. Nada importa. E eu, faço o relato
para uma rádio com zero de audiência.

António Cabrita

quinta-feira, julho 21, 2005


(protegida por mim). olhão. julho 2005.

A arte de viver hoje

Ser outro, parecer diferente,
Não falar como outra gente,
Louvar tudo, tudo aceitar,
Mentir sempre e bem ficar,
A todo o vento dar pano,
Servir bons, maus, mano a mano,
Fazer tudo, tudo inventar
Com vista a sempre ganhar:
Quem dominar esta arte,
Na política hoje tem sorte.

Friedrich Von Logau, O Cardo e a Rosa - Poesia do Barroco Alemão, Assírio&Alvim.

quarta-feira, julho 20, 2005

em breve



Está para breve o novo filme de Liv Ullmann. Como acredito que o próximo será tão bom, ou melhor(apesar de ser muito difícil)que "Infidelidade" (com argumento do genial Ingmar Bergman),já estou super ansiosa e curiosa.

20 de julho

Não dou importância alguma aos dias de dia certo na agenda, no calendário, para o comércio ganhar. Hoje é o dia do amigo. E a alegria foi hoje receber um e-mail de uma amiga, que não sei nada há meses, para não dizer anos. E a alegria foi uma amiga que não vejo há tempos, perguntar-me "o que é feito de ti?". Adorei a coincidência.

Andei às voltas aqui no livro e não encontrei um dos mais bonitos poemas sobre amigos, melhor, ouso dizer: o mais bonito, a meu ver. Escreveu-o Daniel Faria, que dava muito valor aos amigos. Quando o encontrar, colocarei aqui.

Blitz


(c) Helena Almeida.

Tomei conhecimento dos "25 momentos na história da blogosfera" (porquê 25? tantos que ficam de fora), via newsletter, de uma das mais interessantes revistas on-line, Storm Magazine. Já está disponível o recente número. (Pena que a entrevista a Helena Almeida não seja mais desenvolvida).

definições de arte

Rui Pedro diz que "A arte tem valia porque nos tira daqui", pedindo emprestado as palavras ao Fernando Pessoa, do Livro do Desassossego.

Deixo outra, esta do Chesterton," A arte é a assinatura do homem".

previsão de tempo para utopia e arredores

Ó Rui Amaral, caramba, não podes deixar de blogar. Não podemos ficar sem os teus textos, sem os teus posts. Não podemos. Tens de voltar, fogo!

Senso


Senso, Luchino Visconti.

Há coisas que dão cabo de mim. Coisas como o documentário que passou ontem. Scorsese encontrou a palavra que eu não achava. Tal como o realizador norte-americano, também eu fiquei enfeitiçada (é esta a palavra), durante muito tempo, pelo "Senso" de Visconti. Ontem o filme revisitou-me da melhor forma e fiquei com uma tremenda vontade de revê-lo, o mais brevemente possível. Vi-o graças a um programa que Bénard da Costa tinha na RTP 2, há tempos, onde ele apresentou alguns excelentes e memoráveis, e inclusivamente, após a exibição deles mesmo, o escritor falava deles, apoiando em livros, onde ele exibia numa mesa grande, ou através de planos que colocava em still. Que saudades!...

terça-feira, julho 19, 2005

a minha viagem a Itália


Senso, Luchino Visconti.

Soube ontem que estava a perder o documentário "My voyage to Italy" de Martin Scorsese, repartido em quatro partes. Que pena!! Dois lá se foram, agora restam-me os próximos (o de hoje e da próxima terça-feira). A não perder: hoje, no canal dois, às 22h30.

segunda-feira, julho 18, 2005

Deixa-me dar-te o verão

O verão é feito de coisas
que não precisam de nome
um passeio de automóvel pela costa
o tempo incalculável de uma presença
o sofrimento que nos faz contar
um por um os peixes do tanque
e abandoná-los depressa
às suas voltas escuras

José Tolentino Mendonça, De igual para Igual, Assírio & Alvim.

A arte é um meio para ver melhor

Quando perguntavam a Alberto Giacometti o que era, para ele, a arte, podia responder muitas coisas, mas encontrava sempre um modo de repetir: "A arte é um meio para ver melhor". Li, há tempos, uma velha entrevista sua onde contava: "Primeiro, ia ao Louvre para ver os quadros e as esculturas do passado e considerava-as de uma beleza superior àquela da realidade. Hoje, quando vou ao Louvre, todas estas representações do mundo exterior me parecem parciais e precárias. Pergunto-me como conseguia ver aquelas coisas. E aquilo que me surpreende agora, o que me fulmina, não são nem os quadros, nem as esculturas, mas os visitantes. Olho unicamente as pessoas que olham." (...)
Penso muitas vezes no fugidio sentido das palavras que ele repetia sempre: "A arte é um meio para ver melhor". Talvez todos os livros que lemos e se tornaram inseparáveis, todo o tempo fascinado que dedicámos a uma imagem, os motivos inexplicáveis que nos fazem escolher determinada música, quando à nossa alma lhe dá para assobiar no escuro, talvez tudo isso seja apenas a preparação que nos é requerida para olhar um rosto. Transportamos frases, fragmentos, vestígios: não sabemos dizer bem porquê, até que de repente, isso que eram palavras ou imagens ou uma coisa tão ténue que nem se pode descrever, assoma como forma, mais sensível, mais intensa, de escutar a glória que habita cada rosto. (...)


José Tolentino Mendonça, in Público, 5 Maio 2001.

memória



Aos dois anos, muito bem sentadinha, no braço do sofá, lendo o jornal, de perna cruzada, pois claro. (eheh).

domingo, julho 17, 2005


Andrew Wyeth, Distant Thunder.

doudices

O que é que os "the pretenders" têm a ver com manic street preachers, p.j harvey, david bowie, pulp, the white stripes, janis joplin, leonard cohen, lloyd cole, e the smiths? Nada, absolutamente nada. São estão todos no meu último álbum, da melhor colecção que há por aí, "doudices de lídia"(ehhe), tudo bem arrumadinho.Na próxima vez, será somente faixas 7 de vários álbuns.

última carta com carimbo


(protegida por mim). joker. julho 2005.

louder than bombs



Because if it's not Love
Then it's the bomb, the bomb, the bomb,
the bomb, the bomb, the bomb, the bomb
That will bring us together


The Smiths, Ask.

quinta-feira, julho 14, 2005

aldraba


(protegida por mim). rugido. julho 2005.

tabelas de excel

Ai:
Em português: interjação que transmite emoções súbitas.
Em japonês, significa amor.

Ei:
em alemão, significa ovo.
em holandês, significa olá.

apontamento

em poucas linhas, não cair no meu próprio ensimesmamento, colocar-me fora de mim, habitar um espaço-entre, caminhar dentro de uma imagem e ousar a linguagem. agora não sei onde pára a verdade. vendo bem as coisas, a verdade será só a forma?

as moradas do olhar


(c) Abbas Kiarostami.

Ontem, uma amiga ofereceu-me um dos catálogos mais bonitos da Cinemateca, e talvez, o mais bonito, pelo seu todo. (Ainda não acredito que o tenho). Os filmes, as fotografias, os poemas. Os caminhos da solidão, da verdade, da simplicidade, da poesia, das paisagens, do seu olhar. Abbas Kiarostami.

Primeiros passos que sublinho:

A única maneira de prefigurar um cinema novo reside no maior respeito pelo papel do espectador. É preciso prefigurar um cinema "in-acabado" e incompleto, de modo que o espectador possa intervir para preencher os vazios, as lacunas.

Fui castigada

Por causa da última brincadeira, que ninguém entendeu, só eu mesma. Fui severamente castigada. Meia dúzia de posts sobre um cineasta iraniano. Eu não mereço tal coisa!

2.Primeira Errância


© Raymond Depardon .

Estou adiando, dia para dia, o primeiro post da "Errância". Um dia, mais tarde ou mais cedo, teria de chegar ao começo. E é hoje. Razões, motivos, porquês? Um dia teria de chegar ao começo. Sou uma pessoa feliz, optimista com uma sensação contínua de bem-estar. Estou contente com a vida e não há nada mais compensador do que fazer um post por semana.

terça-feira, julho 12, 2005

1.Última Errância


(c)Raymond Depardon, "Errance".

Estou adiando, dia para dia, o último post da "Errância". Um dia, mais tarde ou mais cedo, teria de chegar ao fim. E é hoje. Razões, motivos, porquês? Um dia teria de chegar ao fim. Quanto à minha aventura blogueira, depois dos quatros blogues, dificilmente voltarei ao mundo dos blogues. Resta-me deixar um sincero obrigado e um sorriso a quem esteve aqui a errar.

autocolante

"Eu vinha para a vida e dão-me dias"

Ruy Belo, Homem de Palavra(s), Editorial Presença.

segunda-feira, julho 11, 2005

política laranja à direita, mas à esquerda, ou não


(protegida por mim). política laranja de pegadas. julho 2005.

Apanho o autocarro todos os dias, e até hoje, esta "política laranja de pegadas" só tem provocado novas discussões. "O laranja está para a direita, é neste sentido", diz um. "Não, o laranja está mais à esquerda", diz outro. Conclusão concluída, já recebeu um prémio. Fica registado.

A rua é das crianças

Ninguém sabe andar na rua como as crianças. Para elas é sempre uma novidade, é uma constante festa transpor umbrais. Sair a rua é para elas muito mais do que sair à rua. Vão com o vento. Não vão a nenhum sítio determinado, não se defendem dos olhares das outras pessoas e nem sequer, em dias escuros, a tempestade se reduz, como para a gente crescida, a um obstáculo que se opõe ao guarda-chuva. Abrem-se à aragem. Não projectam sobre as pedras, sobre as árvores, sobre as outras pessoas que passam, cuidados que não têm. Vão com a mãe à loja, mas apesar disso vão sempre muito mais longe. E nem sequer sabem que são a alegria de quem as vê passar e desaparecer.

Ruy Belo, Homem de Palavra(s), Editorial Presença.

autocolante

"Eu vinha para a vida e dão-me dias"

Ruy Belo, Homem de Palavra(s), Editorial Presença.

domingo, julho 10, 2005

passagem


(protegida por mim). "tempo detergente". julho 2005.

Agora virei-me para as fotos, aqui no blogue. Mas daqui a nada, invento, ao sabor do vento, outro "pensatempo", como diz Mia Couto. São as minhas errâncias. Há dois anos a minha máquina fotográfica passou a ser a minha âncora sentimental e assim continuará a ser.

Dance

Minha irmã enviou-me este video, por e-mail. É uma boa (e engraçada) súmula de uma gama de livros que dizem "faça aquilo e mais aquilo para sorrir na vida". Vejam. E tomem o vosso comprimido de eu-ideal, com os vossos pozinhos de Perlimpimpim.

E-nose

Os narizes electrónicos já têm aplicação em vários domínios, como no controlo de qualidade de alimentos, na identificação de produtos alimentares degradados nos frigoríficos inteligentes, na detecção de TCA nas rolhas, na monitorização da poluição ambiental. São especialmente utilizados na área alimentar. No entanto, o presente diz que estes sensores inteligentes têm de ser ainda desenvolvidos com mais ambição, vincando sobretudo a qualidade e a inovação. Fala-se do E-nose e com toda a importância. O E-nose já é estudado como possibilidade, por exemplo, para diagnosticar cancro ou outras doenças de foro pulmonar. Na verdade, são muitos os caminhos. E eu digo que a inovação é ainda muito mais bem-vinda, quando ela traz um grande potencial de utilidade.

céu


(protegida por mim.) varas de salto. julho 2005.

O retorno à "normalidade"

Sou uma ferida aberta que caminha para fora do hospital.
Sou uma ferida aberta que eles deixam passar.


Sylvia Plath, "Três mulheres - poema a três vozes", tradução de Ana Gabriela Macedo.

A incomensurável dor da realidade

Devo dizer que não me identifico nada com esses arroubos do coração suscitados por uma agulha ou por uma faca (...) Parece-me que a experiência pessoal não deve ser uma caixa com tampa fechada, ou um mero narcisismo.
Creio que deverá ser relevante, no geral, referir questões como Hiroshima, Dachau, etc.


Sylvia Plath, citada por Ana Gabriela Macedo, no préfacio de "Três Mulheres - poema a três vozes".

sábado, julho 09, 2005

lá fora


(protegida por mim). maresia dentro do braço. julho 2005.

Errance



Hoje, no canal dois, às 23 horas, "O Estádio de Wimbledon",de Mathieu Amalric.

Redes


(protegida por mim.) redes de comunicação.julho 2005.

"Do I contradict myself? Very well, then I contradict myself. I am large. I contain multitudes."
Walt Whitman

bilhete

Lá chegas tu, com esse humor mais seco que um figo, com essa arrogância de faca pronta. Pedes o copo garrafa de cerveja , e dizes muito “blá blá”, pelo meio.
Lá chegas tu, e não te suporto mais. Vai passear e leva a tua arrogância para muito longe. Estou muito bem aqui nesta esplanada, à beira-mar.
Recosto-me, fecho o livro, está tudo bem.

em Friday Night, Claire Denis.

Viciada nesta canção.

sexta-feira, julho 08, 2005

Language is like a road

Monstros

How could we have forgotten that this was always going to happen?

In Auden's famous poem, Musee des Beaux Arts, the tragedy of Icarus falling from the sky is accompanied by life simply refusing to be disrupted. A ploughman goes about his work, a ship "sailed calmly on", dogs keep on with "their doggy business". In London yesterday, where crowds fumbling with mobile phones tried to find unimpeded ways across the city, there was much evidence of the truth of Auden's insight. While rescue workers searched for survivors and the dead in the smoke-filled blackness below, at pavement level men were loading lorries, a woman sold umbrellas in her usual patch, the lunchtime sandwich makers were hard at work.

Ian McEwan, The Guardian, 8 de Julho de 2005.

quarta-feira, julho 06, 2005

cinema nipónico



Japanese Cinema: Film Style and National Character, de Donald Richie.

Download here.

terça-feira, julho 05, 2005


© Jenny Holzer, LED 1.

segunda-feira, julho 04, 2005


hierarquia. agosto 2004.

Ubu Roi


Max Ernst,Ubu Imperator, 1923.

domingo, julho 03, 2005

Is That All There Is?


travessão. junho 2005.

I remember when I was a girl
Our house caught on fire
And i'll never forget the look on my father's face
As he gathered me in his arms
And raced to the burning building out on the pavement
And I stood there shivering
And watched the whole world go up in flames
And when it was all over
I said to myself
Is that all there is to a fire?
Is that all there is?

Is that all there is?
If that's all there is, my friends, then let's keep dancing
Let's break out the booze and have a ball
If that's all there is

And when I was twelve years old
My daddy took me to the circus
The greatest show on earthe
And there were clowns
And elephants
Dancing bears,
And a beautiful lady in pink tights flew high above our heads
And as I sat there watching
I had the feeling that something was missing
I don't know what
But when it was all over
I said to myself
Is that all there is to the circus

Is that all there is?
If that's all there is, my friends, then let's keep dancing
Let's break out the booze and have a ball
If that's all there is

And then I fell in love
With the most wonderful boy in the world
We'd take long walks down by the river
Or just sit for hours gazing into each other's eyes
We were so very much in love
And then one day
He went away
And I'd thought I'd die
But I didn't
And when I didn't
I said to myself
Is that all there is to love

Is that all there is?
If that's all there is, my friends, then let's keep dancing
Let's break out the booze and have a ball
If that's all there is

I know what you must be saying to yourselves
If that's the way she feels about it
Then why doesn't she just end it all
Oh no. not me. I'm not ready for the final disappointment
Cause I know just as well as I'm standing here talking to you
That when that final moment comes
And I'm breathing my last breath
I know what i'll be saying to myself
Is that all there is?

Is that all there is?
If that's all there is, my friends, then let's keep dancing
Let's break out the booze and have a ball
If that's all there is

Polly Jean Harvey, Dance Hall At Louse Point

Civil War Correspondent


por uma corda. junho 2005.

Words leave my heart dry
Words can't save life
Love has no place here
No joy, no tears

Darling, time's changed
Time leaves, time fades
Please see through my eyes
Save your tears for the next who dies

I shout but he don't hear
I put down on the page
Darling spare me your tears
Just send me the light of day

I shout but he don't hear
Just put down on the page
Darling spare me your tears
Dear god please send me the light of day

Feel his heart wired
Heart like gunfire
Gunfire
Gunfire
Gunfire

Polly Jean Harvey, Dance Hall At Louse Point

via clipping

."In the book industry there is a category of people who don't understand much: publishers. They think that everybody wants to read easy books. That's untrue, or else authors like Thomas Mann would have never enjoyed any popularity." Umberto Eco, na apresentação do seu mais recente livro em Toronto.

.Parte de uma entrevista de emprego com Susan Sontag: "She had a great store of literary anecdotes. She told me about how her friend Bob Coover—that’s novelist Robert Coover to you and me—had his entire catalogue of wine stored in a database. She talked about an amusing phone call she once had her protégé Darryl Pinckney make to Djuna Barnes. She gossiped about Norman Mailer and John Updike, all of which made me feel like I wasn’t some Garden State jerk but a worldly writer.".

hic et nunc



"É aqui que me sinto fraca e com vontade de conversar."

Gestão intrapessoal

Não há local melhor, a meu ver, que uma esplanada à beira mar num dia sem nuvens, para fazer muito bem a minha gestão intrapessoal. Isso mesmo. Entre um copo de água e outro, baixo os valores da procrastinação, em dois tempos.

Is excessive evil worse than absent good?


de "For Ever Mozart", Jean-Luc Godard.

Ontem na Casa da Artes, sob estrelas, "For Ever Mozart", para os sobreviventes . Antes da exibição do filme, o jogo de sombras projectas na tela, até quem houvesse a fazer jogos japoneses de mãos. Durante, para além de um pássaro difícil de identificar sob filme, vi uma borboleta a rondar o chapéu de Vicky.

Depois de Espanha


à espera, entre. junho 2005.

Há dias, pelas ruas de Espanha, à toa, com o raio da sombra.
Pelas ruas de Espanha, com A Estrada Azul, de Kenneth While, na bolsa.
À toa, à procura da Pérsia de Annemarie Schwarzenbach , a viajante mais triste do mundo.
Com o raio da sombra, há dias.