Fronteiras Perdidas
"-Quando era criança- contou-me ela -,os meninos, na escola, chamavam-me Fronteiras Perdidas, porque em certos dias eu parecia mulata, e noutros acordava com cara de branca. Acho que essa alcunha marcou o meu destino.
Disse-lhe que certos povos, em África, acreditam que o nome guarda, a essência do indíviduo, o seu futuro e o seu passado. Por isso têm um nome público e outro secreto, o verdadeiro, utilizado apenas em cerimónias restritas. Fui inventando a história à medida que a contava. Disse-lhe que, nessas nações africanas, o pior que pode acontecer a alguém é que o seu nome verdadeiro se torne do conhecimento geral. Isso é pior do que morrer. Talvez ela se chamasse realmente Fronteiras Perdidas, e não Raquel (afinal o que é que significa Raquel?), mas seria melhor manter isso em segredo. Raquel riu-se e ofereceu-me um sorvete de pétalas de rosa. Tinha um sabor escuro- a terra molhada- que se estranhava na alma."
José Eduardo Agualusa, Fronteiras Perdidas, Dom Quixote, pp63.
Disse-lhe que certos povos, em África, acreditam que o nome guarda, a essência do indíviduo, o seu futuro e o seu passado. Por isso têm um nome público e outro secreto, o verdadeiro, utilizado apenas em cerimónias restritas. Fui inventando a história à medida que a contava. Disse-lhe que, nessas nações africanas, o pior que pode acontecer a alguém é que o seu nome verdadeiro se torne do conhecimento geral. Isso é pior do que morrer. Talvez ela se chamasse realmente Fronteiras Perdidas, e não Raquel (afinal o que é que significa Raquel?), mas seria melhor manter isso em segredo. Raquel riu-se e ofereceu-me um sorvete de pétalas de rosa. Tinha um sabor escuro- a terra molhada- que se estranhava na alma."
José Eduardo Agualusa, Fronteiras Perdidas, Dom Quixote, pp63.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home