quinta-feira, março 31, 2005

Robert Creeley


(c) Robert Creeley fotografado por Harry Redl.

A entrevista com poeta Robert Creeley começa e termina aqui.

Leonard Schwartz : In that sense, you certainly can’t write by formula, only form. I wondered if you could read from your new book?

Robert Creeley: Yeah. It’s a pleasure. Shall I read a sad occasion, a poem in the memory of Allen Ginsberg? I used a title of Walt Whitman’s, “When I Heard the Learn’d Astronomer,” which is itself a wonderful poem, a poem about sitting, listening to a lecture by someone who was obviously well-informed, saying things of real import, but the listener becomes restless, the man is talking about the heavens, and the restless man goes outside and looks at the sky, the heavens. And that’s sort of parallel to my sense of what Allen was doing.


When I Heard the Learn’d Astronomer...

A bitter twitter,
flitter,
of birds
in evening’s
settling,
a reckoning
beckoning,
someone’s getting
some sad news,
the birds gone to nest,
to roost
in the darkness,
asking no improvident questions,
none singing,
no hark,
no lark,
nothing in the quiet dark.

Begun with like hypothesis,
arms, head, shoulders,
with body state
better soon than late,
better not wait,
better not be late,
breathe ease,
fall to knees
in posture of compliance,
obeisance,
accommodation
a motivation.

All systems must be imagination
which works,
albeit have quirks.

Add by the one
or by the none,
make it by either
or or.
Or say that after you
I go.
Or say you
follow me.
See what comes after
or before,
what
you had thought.

Many’s a twenty?
A three?
Is twenty-three
plenty?

A call to reason
then
in due season,
a proposal of heaven
at seven
in the evening,
a cup of tea, a sense
of recompense
for anyone works for a living,
getting and giving.

Does it seem mind’s all?
What’s it mean
to be inside
a circle, to fly
in the sky, dear bird?

Words scattered,
tattered,
yet
said
make it
all evident,
manifest.
No contest.
One’s one again.
It’s done.

Hurry on, friend.
There is no end
to desire,
to Blake’s fire,
to Beckett’s mire,
to any such whatever.

Old friend’s dead
in bed.

Old friends die.
Goodbye!

Robert Creeley

language is a virus

Há palavras que têm tanta casca grossa, que dá vontade de levar uma picareta para o dicionário e retirá-las de lá, deixando um lugar vazio, inexistente. O pior é quando elas já andam nas ruas, não há sinal fechado na língua. São como testemunhos que passam de mão e mão e são somente isso, palavras de passagem, não enchem nem esvaziam pensamento nenhum, nem argumento nenhum. Uma palavra zero, vazia, só com sílabas a dar corpo. Uma doença que alastra há muito tempo.

se

fosse possível, bem que transcrevia todas as letras de dois livros, entre outros:
Húmus, de Raul Brandão.
Gramáticas da Criação, de George Steiner.

e

-invenção ou memória?
-memória e invenção.

hora absurda

cansei-me 12:00:01 PM das 12:00:03 PM horas 12:00:05 PM

Passagem

Philosophy has a practical task, a task for humanity. So the Greco-Roman philosophical tradition holds, with remarkable unanimity. If it fails to perform this task, in its research and in its teaching, it will be rightly dismissed as "empty" and trivial. As Epicurus puts it, "Empty is that philosophical argument by which no human suffering is therapeutically treated. For just as there is no use in medicine, unless it casts out the illness of bodies, so too there is no use in philosophy, unless it casts out suffering from the soul."

Martha C. Nussbaum, "No Chance Matter":Philosophy and Public Life.

quarta-feira, março 30, 2005

um libelo contra a repressão


"landays" de exílio e de amor


Meus amigos, qual dos dois escolher?
Luto e exílio chegaram juntos a minha casa.

É Primavera, aqui as folhas crescem nos ramos
Mas no meu país as árvores perderam a ramagem sob o
[granizo das balas inimigas


Adormece em meus olhos
A insónia das minhas noites reduziu-me a pó

Poisa a tua boca na minha
Mas deixa a minha língua livre para falar de amor

Vem, amor, deixa-me abraçar-te
Eu sou a frágil hera que o Outono em breve levará

Esta mulher exilada não pára de morrer
Voltai-lhe o rosto para a terra natal, para que ela exale o
[seu último suspiro



Sayd Bahodine Majrouh
, A voz secreta das mulheres afegãs - o suicídio e o canto, versão de Ana Hatherly, Cavalo de Ferro.

terça-feira, março 29, 2005

já falta pouco

[...]
You’re walking. And you don’t always realize it,
but you’re always falling.
With each step you fall forward slightly.
And then catch yourself from falling.
Over and over, you’re falling.
And then catching yourself from falling.
And this is how you can be walking and falling
at the same time.

Laurie Anderson, de Big Science.

mais do que cinema


(de Sophie Scholl - Die letzten Tage)

há muitos filmes que adorava rever. nos últimos dias, tenho pensado muito neste.se calhar, um pouco a pensar noutro que ainda não chegou a Portugal, sobre a história de Sophie Scholl, Die letzten Tage (2005), os últimos dias.

atenção

Antes do começo desta nova auto-estrada, que são os blogues, havia os zines. Lembram-se? Há coisas que não terminam mesmo, só se transformam mesmo.

um fósforo

Tive um pouco de amor
na mão aberta.

Quis com ele construir
uma mesa
uma jarra
um assobio de perturbar
fantasmas.

Abriram-me os dedos:
caiu no chão um montão de palavras
inabitáveis.

Egito Gonçalves, O fósforo na palha, Publicações Dom Quixote, 1967.

apontamento

O que perguntava na Janela Indiscreta (que saudades!), numa quinta-feira, de Fevereiro, em 2003, com as palavras emprestadas de René Char, «Estaremos destinados a ser apenas começos de verdade?», continua a ser a minha mesma pergunta, de uma terça-feira, de Março, de 2005.

para

Há alguns anos, pensei conceber a minha liberdade ( a precisar de uma remodulação urgente e verificada), com pensamento de receber um telefonema de Herberto Hélder, do fundo do canto de qualquer tasca ou lugar parecido, a dizer qualquer coisa como...

uma canção filosoficamente ébria

Ando com muita vontade de bater nos filósofos, só que quando chego ao Cioran,...entro na armadilha dele e repito as suas palavras: só começamos a viver realmente no final da filosofia, sobre suas ruínas, quando compreendemos sua terrível nulidade, e que era inútil recorrer a ela, incapaz de qualquer auxílio. (em Breviário de Decomposição, Rocco).



The Philosophers' Drinking Song

Immanuel Kant was a real pissant
Who was very rarely stable.

Heidegger, Heidegger was a boozy beggar
Who could think you under the table.

David Hume could out-consume
Wilhelm Freidrich Hegel,

And Wittgenstein was a beery swine
Who was just as schloshed as Schlegel.

There's nothing Nietzche couldn't teach ya
'Bout the raising of the wrist.
Socrates, himself, was permanently pissed.

John Stuart Mill, of his own free will,
On half a pint of shandy was particularly ill.

Plato, they say, could stick it away—
Half a crate of whisky every day.

Aristotle, Aristotle was a bugger for the bottle.
Hobbes was fond of his dram,

And René Descartes was a drunken fart.
'I drink, therefore I am.'

Yes, Socrates, himself, is particularly missed,
A lovely little thinker,
But a bugger when he's pissed.


Eric Idle

Atenção às notas.

dia das mentiras antecipado,

só pode ser isso. A minha alma anda mais que parva com as sondagens publicadas pelo Comércio do Porto e comentadas no Quartzo.

Não sei de que Porto falam, quando dizem que o Porto é "o concelho em que os cidadãos estão mais optimistas". Sinceramente, não sei mesmo, não pode ser o Porto onde vivo. Façam uma errata.

domingo, março 27, 2005

Ubu Web

UbuWeb announces the beta launch of its newest section of historic artist's films. In addition to the 37 short Fluxus films (see below), films can be viewed by Kenneth Anger, Luis Buñuel, John Cage, Guy Debord, Marcel Duchamp, Laszlo Moholy-Nagy, Robert Morris & Stan VanDerBeek, Isidore Isou, Man Ray, Robert Rauschenberg, Hans Richter, Harry Smith and Jack Smith.

Excelente: UbuWeb: Film

sexta-feira, março 25, 2005

O Esterco do Mundo

Tenho amigos que rezam a Simone Weil
Há muitos anos reparo em Flannery O'Connor

Rezar dever ser como essas coisas
que dizemos a alguém que dorme
temos e não temos esperança alguma
só a beleza pode descer para salvar-nos
quando as barreiras levantadas
permitirem
às imagens, aos ruídos, aos espíritos sedimentos
integrar o magnífico
cortejo sobre os escombros

Os orantes são mendigos da última hora
remexem profundamente através do vazio
até que neles
o vazio deflagre

São Paulo explica-o na Primeira Carta aos Coríntios,
"até agora somos o esterco do mundo",
citação que Flannery trazia à cabeceira

José Tolentino Mendonça, A Estrada Branca, Assírio & Alvim.

quinta-feira, março 24, 2005


(c) Michael Kenna, Suspended Vine, Marly, France, 1995

Palavrão

Sem o Canal Brasil, não há meio de ver o primeiro programa de poesia da TV brasileira (que será exibido a partir de junho no canal).Que pena!

Well?

Who Will Free Fiona Apple?

Continua o protesto dos admiradores de Fiona Apple, por causa da sua editora Sony recusar a lançar o seu mais recente álbum "Extraordinary Machine". Tudo isto começou com duas músicas. Todas aqui.

Please please please
No more melodies
They lack impact, they're petty
They've been made up already
Please please please
No more maladies
I'm so tired of crying
You'd think I was a siren
But me and everybody's on the sad same team
And you can hear our sad brain screaming
[...]

Please Please Please- Extraordinary Machine.

(c) Ryuijie, Shirt, 1998

A casa

Sempre se conheceu o vento de Junho
nessa orla, que regougava nas esquinas
da casa à noite e nas manhãs ansiosas
em que voltava a aragem matinal
deixava irremedialvemente os frutos
a juncar a terra e os atalhos.

E sempre se lamentaram as velhas pancadas
do vento, no seu ritmo marítimo, a exaltação
a que nos levava, permanentes povoadores
da costa. E para lamentar dizíamos
as palavras usuais e alguns suspiros
próprios da insónia de ouvir o vento.


Fiama Hasse Pais Brandão
, Três Rostos, Assírio & Alvim.

quarta-feira, março 23, 2005


Michael Kenna, Tranquil Boat, Versailles, France, 1996

O grito

Não valia a pena esperar, ninguém viria
que nos segurasse a cabeça e nos pegasse nas mãos,
estávamos sós e essa solidão éramos nós;

e era indiferente sabê-lo ou não,
ou gritar (ou acreditar), porque ninguém ouvia:
o grito era a própria indiferença.

Presente, apenas presente;
a memória, presente,
a esperança, presente.

E, no entanto, houvera um tempo
em que tínhamos sido talvez felizes,
quando não nos dizia respeito a felicidade,

e em que tínhamos estado perto
de alguma coisa maior que nós
ou do nosso exacto tamanho.

Como um animal devorando-se
por dentro a si mesmo,
consumira-se, porém,

o pouco que nos pertencera, os dias e as noites,
a certeza e o deslumbramento, a cerejeira e a
palavra "cerejeira" ainda em carne na jovem boca.

Nenhuma beleza e nenhuma verdade que nos salvasse,
nenhuma renúncia que nos prendesse
ou nos libertasse, nenhuma compaixão que

nos devolvesse o ser
ou o mesmo,
ou fosse a morada de algo inumano como um coração.

Nenhuns passos ecoavam no grande quarto interior,
nenhumas pálpebras se abriam,
como poderíamos não nos ter perdido?

Entre 10 elevado a mais infinito
e 10 elevado a menos infinito,
uma indistinta presença impalpável na indiferença azul,

sós,
sem ninguém à escuta,
nem a nossa própria voz.


Manuel António Pina
, Os Livros, Assírio & Alvim.

Eterno



O inesquecível "Dr Jivago", realizado por David Lean, amanhã, na RTP Memória, às 21h30.

Books2Eat


The Mad Hatter's tea pot from Lewis Carroll's "Alice in Wonderland"
Bangor, Maine, 2003


Já estou a imaginar saquetas de chá, triangulares à pirâmide egípcia, com haikus.


After School Shack,Dawn Forbes, 2001.Oregon

Já estou a imaginar bolachas Maria com versos de Maria Teresa Horta.


M Clorenz- Chocolate Press, Hamburg 2001

Continua aqui.
Festivais como The International Edible Book Festival
(realiza-se no dia 1 de Abril)
é que não há por aqui.
Falta presença portuguesa.

terça-feira, março 22, 2005

o cavaleiro solitário

Pale Rider, de Clint Eastwood, com Clint Eastwood, Michael Moriarty, Carrie Snodgress, Chris Penn, entre outros, hoje, na RTP 1, às 23h30.



Obrigada, Zazie. :-)

domingo, março 20, 2005


(c) Michael Kenna,Biwa Lake Tree,Study 3,Omi,Honshu,Japan.

refresh, refresh and refresh again

i don´t know why

Já leu haiku de queijo?
Então, fique atento ao OMC.
Gods, o que falta mais inventar?
Já agora, não há haiku sobre Albert Einstein?

sim

gosto desta loucura.

matiné: o cinema verdade de Dziga Vertov




De O Homem da Câmara de Filmar.

Make it New!

Por causa da assinalação do dia mundial da poesia, amanhã, pode se comprar livros de poesia, com desconto de 50%, nas livrarias da Assírio & Alvim e também há a oferta de um livro, da editora Alma Azul, com traduções de poemas ainda não disponíveis em mercado, na compra de qualquer livro na Fnac. Eventos não faltam para uma imensa minoria.

Da Índia Antiga

A lua tenta todos os meses em vão
Captar a beleza do teu rosto
Descontente com o resultado
Destrói tudo e começa de novo

De: Os cinquenta poemas do amor furtivo
e outros poemas eróticos da Índia Antiga,
versões de Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim.

Longe/Mergulho


No canal dois, às 23h30, "Loin" de André Techiné.

Logo a seguir, "Onda-Curta", desta vez, de novo, "O Mergulhador", de Helge Vasenius, uma curta-metragem lindíssima, poética sobre todo o movimento de mergulho, antes.

A Música do Acaso

Com a deslocação de Paul Auster a Lisboa ,no dia 29 de Abril, para o lançamento, da nova tradução, de "A Música do Acaso", só posso esperar que ele venha cá ao Porto.E já estou a imaginar a enchente que vai ser , só com a sua presença em Santa Catarina.
Já começou a corrida...

Escute "Notre Musique"


Numa das cenas de "Notre Musique", Godard se encontra com alguns estudantes de Sarajevo. Um deles pergunta se as novas câmaras digitais podem salvar o cinema.
Ele simplesmente fica em silêncio e desce pelo seu rosto uma sombra.O recado ficou dado.