quarta-feira, janeiro 04, 2006

-the end


L'avventura, Antonioni.

O "Errância" tem outra errância. Erra por aqui agora.

Não vou abandonar este blogue, como Valéry abandonava um poema.
O "Errância" só ganhará o seu verdadeiro sentido assim.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Até

Em 2006, cá voltarei. Até lá, boas festas e um óptimo 2006.
E, já agora, apareçam na "Collectus".

-


L'avventura, Antonioni.

Pesquisa blogmente sociológica

Só há pouco tempo é que me dei conta que o meu contador de visitas dá a possibilidade de ver quais são as referências, palavras googladas, que levam a clicar no "Errância". Então, há quem tenha aparecido por cá, porque procurava no google, assim: "significado do vento", "frases eróticas","anatomia","sombras", entre tantas outras. E a imagem mais procurada aqui, agora, é esta.

Despojamento (em execução)

eliminar o poço da paisagem. retirar o nó da mesa. subtrair os pontos do discurso. banir os livros do corredor. desnudar o vazio.

Ana C.



Para quando a antologia poética de Ana Cristina César, anunciada pela Quasi, e que nunca mais vejo nas prateleiras das livrarias?

Linha aérea Herberto Helder

Se ainda dúvidas existiam, em relação à carteira (que, neste caso, não rima com carreira) profissional de navegador aéreo,do Herberto Helder, como menciona muito bem o Rui Amaral, elas vão ficar já dissipadas com as seguintes linhas.

Se perguntarem: das artes do mundo?
Das artes do mundo escolho a de ver cometas
despenharem-se
nas grandes massas de água: depois, as brasas pelos
recantos,
charcos entre elas.
Quero na escuridão revolvida pelas luzes
ganhar baptismo, ofício.
Queimado nas orlas de fogo das poças.
O meu nome é esse.
E os dias atravessam as noites até aos outros dias, as
noites,
caem dentro dos dias – e eu estudo
astros desmoronados, mananciais, o segredo.

Herberto Helder

P.S Já que há um avião com nome (merecido) de Sophia Mello Breyner (voar com Sophia deve ser outra coisa), porque não uma linha aérea chamada Herberto Helder?

Then?



And then a plank in reason, broke,
And I dropped down and down--
And hit a world at every plunge,
And finished knowing--then--


Emily Dickinson, "I felt a funeral in my brain," .

Um dos livros que mais gostei de ler, neste ano, foi uma excelente tradução livre de uma escritora espanhola, a partir de muitos poemas e cartas de Emily Dickinson. A poeta (genial) que merecia uma verdadeira tradução muito mais completa (e não somente a abranger uma pequeníssima parte da sua obra poética (como acontece)), para a língua portuguesa, e que até agora ainda não tem.

Poemas on the underground

Por que será que o nosso metro não tem uma linha poética, assim como esta?

You took away all the oceans and all the room.
You gave me my shoe-size in earth with bars around it.
Where did it get you? Nowhere.
You left me my lips, and they shape words, even in silence.


Osip Mandelstam, traduzido por Clarence Brown e W. S. Merwin.

Sobre a última palavra d'Os Lusíadas

Passo, para aqui,parte de uma entrevista antiga, de Janeiro deste ano, conduzida pelo jornalista Paulo Moura ao pensador filosófico sobre o corpo, José Gil. Trouxe-a para aqui, porque tem a tónica na "inveja", que foi pouca desdobrada aquando da saída do seu best-seller e que, a meu ver, merecia mais atenção, já que é a tal,infelizmente,de que ele diz que o português tem muito.Infelizmente, ela existe mesmo.

P. - A incapacidade de agir vem de dentro, do nosso medo. Mas, quando alguém tenta, o que acontece? Temos a aprovação ou a sanção dos outros?
R. - Uma sanção terrível. É o mecanismo da inveja.

P. - Não agimos, mas também não deixamos ninguém agir. Como funciona esse mecanismo?
R. - O mecanismo da inveja tem a ver com práticas da magia, o "mau olhado", o "quebranto", e também com o que em psiquiatria se chama "transferência psicótica", ou seja, o que passa de uma pessoa para outra e não é verbal. Imagine que você chega ao pé dos seus colegas e diz: "Fiz uma reportagem extraordinária!" E não está a falar por vaidade, mas objectivamente. Mas logo o tipo que está a seu lado diz: "Ai sim? Pois muito bem." E com este tom introduz em si um afecto inconsciente que o vai paralisar.

P. - É um mecanismo semelhante ao do ostracismo?
R. - Exactamente. Cria-se um ambiente que é hostil à iniciativa e que tem um efeito sobre a própria vontade de querer fazer. Isto é generalizado em Portugal. A inveja é mais do que um sentimento. É um sistema. E não é apenas individual: criam-se grupos de inveja. Várias pessoas manifestam-se simultaneamente contra a sua iniciativa. Cria-se um ambiente de inveja. Um grupo determinado age segundo os regulamentos da inveja.

P. - É uma atitude concertada ou inconsciente?
R. - Pode ser concertada ou inconsciente, mas funciona. Não se permite que numa empresa, num escritório, ninguém ultrapasse a linha da média baixa. Vivemos reconhecendo-nos como irmãos na desgraça.

P. - Mas por que se faz isso? Não seria do interesse de todos encorajar cada um a fazer melhor?
R. - Sim, mas há um efeito de espelhos. Se você faz alguma coisa de forte, isso deveria ser um estímulo para mim, para fazer algo também forte. Mas não. Vê-lo forte diminui-me a mim. Vê-lo com intensidade, com iniciativa, faz-me pensar, por causa da imagem que tenho de mim, na minha pobre condição, em que não faço nada. E faço tudo para destruir a sua iniciativa, para que eu possa viver. Você sufoca-me com a sua energia. Terrível isto. Uma pessoa sufoca a outra com a sua energia. E o resultado é que estamos todos sem energia.

P. - Mas para que essa acção da inveja tenha efeito não é necessário que a "vítima" esteja vulnerável?
R. - Precisamente. Um etnólogo pôs-me essa questão. Disse: só se é afectado pela inveja quando se quer, quando se está num estado determinado. Eu respondo: sim, em quem tem a pele grossa não entra nada. São as pessoas porosas que são fragéis. E isso é típico de Portugal. Os portugueses são sensíveis, porque não são maduros. Isso poderia ser maravilhoso. Somos pessoas de pequenas percepções, de intuições imediatas, e por isso sentimos quando alguém está a torcer para que não avancemos. Faz curto-circuito, fecha o espaço das possibilidades. É um sistema.

P. - Uma espécie de acordo tácito para que ninguém aja, ninguém ameace, e possamos viver em paz.
R. - Precisamente. Para que possamos viver em paz. Porque temos medo do conflito.

P. - Daí os "brandos costumes"?
R. - Recusamos o conflito a céu aberto, mas temos uma violência incrível na nossa sociedade. Violência doméstica em relação às crianças. Os brandos costumes escondem uma violência subterrânea enorme.

terça-feira, novembro 29, 2005

enquanto troco de chapéu, só dá para isto

Jã não tenho 27 anos, mas de qualquer modo é sempre bom ouvir o estupendo Hermand Düne cantar que se sente velho, em tal idade. Aqui "not on top"(mp3)

Em conjugação com a minha idade, canta Elliott Smith, "Thirteen" (mp3)+ 17.

segunda-feira, novembro 28, 2005

when

quinta-feira, novembro 24, 2005

fotografias lindíssimas

the desert sessions



Pensava eu que já conhecia todas as músicas, b-sides, rarities, sabe-se lá mais o quê, da rainha do rock (para mim), Polly Jean Harvey. Até que há dias descobri que o álbum dos The desert sessions 9 and 10, chamado "I see you hearin' me", para além do conhecido dueto com Josh Homme, em "crawl home",há mais três músicas-"there will never be a better time","a girl like me","powdered wig machine"- em primeira linha, com P.J.Harvey. Ou melhor, há mais voltagem, perigo, mistério, energia. "There will never be a better time" é poderosa!
Imperdoável tal falha minha!

quarta-feira, novembro 23, 2005

Drawing Restraint 9



Björk fala sobre o seu novo trabalho em New York Magazine.

It’s a project that, like many of the works of these two protean experimental artists, is so avant-garde as to risk ridiculousness when summarized. But let’s give it a try: Filmed on location in Nagasaki Bay onboard the Japanese whaling ship Nisshin Maru, Drawing Restraint 9 combines sculpture, music, architecture, and performance to explore the relationship between resistance and creativity. Central to the project is a vast, liquid “sculpture” of a Vaseline-like substance called the Field, suggestive of whale fat. As the film unfolds, with a lingering attention to aesthetics that will be familiar to viewers of Barney’s famous Cremaster Cycle, the substance shifts, disintegrates, and ruptures; the changes in its physical form sublimate the movements of the Guests—Barney and Björk—who arrive on the ship to be groomed and dressed by geishas.

terça-feira, novembro 22, 2005

Anjo das tormentas

Do meu amigo Mauro, deixo aqui um poema, publicado na revista Cult, número 85, entre outros.

Anjo das tormentas

“eu sei atravessar as fronteiras das coisas” (Cesariny)

os pescadores fecham
a saída e a entrada
da aldeia

encurralam o anjo
mas ele invoca os ventos

os pescadores são muitos
mas não acuam o anjo agora
não por restarem poucos
mas por ninguém ousar
aproximar-se do mistério de sua fúria

o anjo era o terror de cada um
- um terror incógnito -
como uma voz sem corpo
deslocada
que chama
ao lado contrário do ser

Mauro Jorge Santos

A voz de Leonard Cohen


Respondendo aqui, para mim, a voz masculina com mais pinta é a do Leonard Cohen.